António Nunes: “Roubo como o de Tancos nos países da NATO e da Europa certamente não acontece”

O presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) pensa que o mais certo é que po material roubado em Portugal se destine a um conflito regional em África.

Em declarações à Renascença, o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), António Nunes, defende que a situação que aconteceu em Tancos não tem paralelo na Europa, nem nos países da NATO.

O mesmo responsável refere ainda que os planos de segurança destes espaços militares não estão a ser cumpridos de forma adequada. O caso está a preocupar as instituições a nível internacional.

Há algum dado recente sobre este roubo em Tancos?

O que nos preocupa é que exista uma instalação critica numa base militar que possa ter sido alvo de um assalto, um roubo ou um furto que atirou para o mercado negro, para a área do crime, um conjunto elevado de material de guerra.

É preocupante a todos os níveis, em primeiro pela situação em si: a violação de um ponto crítico dentro de uma base militar que é pressuposto ser um local extremamente seguro.

Por outro lado, a quantidade de material e o tipo de material que sendo colocado clandestinamente nas redes nacionais e internacionais pode vir a parar nas mãos do crime organizado, ou de terroristas, ou na nossa opinião em conflitos de guerra regionais.

A tipologia do material e a quantidade de material, a nosso ver, será mais para circuitos de guerra regionais do que para as outras duas referências. Mas não podemos excluir hipóteses.

Inclina-se para que zona do Mundo?

Dada a situação geográfica de Portugal será para os conflitos africanos. O tráfico internacional de armas é uma questão que preocupa quer as Nações Unidas, quer a Interpol, quer mesmo a União Europeia e a NATO. Todos têm prestado muita atenção a esta questão porque é um negócio altamente lucrativo, e um roubo desta dimensão não nos parece que seja para ser deslocado para um armazém ou para outro local qualquer.

Quando se dá o roubo, já havia por certo comunicações com ligações aos canais de evacuação e distribuição deste material para o retirar do território nacional.

Pode também estar escondido, e se isso vier a acontecer através quer da intervenção da Polícia Judiciária Militar, quer da unidade antiterrorista da PJ, os criminosos terão mais dificuldades em retirá-lo do território nacional. Mas normalmente estas redes são bem organizadas e tudo foi feito com profissionalismo.

A imagem de Portugal fica afectada pela fragilidade que fica exposta, ou isto acontece com alguma frequência noutros países?

Nos países da NATO e da Europa isto não acontece certamente. Em Portugal quer queiramos quer não, temos de assumir estas situações para que elas sejam tratadas com toda a seriedade e celeridade.

Não tenhamos dúvidas que isto não é um caso normal, e muito menos normal em unidades militares porque todos nós sabemos que têm um plano de segurança de acesso e de circulação muito restritivo e muito bem planeado e executado.

Não estamos a falar de um espaço de entrada livre, nem com civis. Estamos a falar de espaços que têm regras de acesso, de controlo e de circulação em que há áreas que estão classificadas, e em que nem toda a gente que tem acesso à unidade pode circular.

Há planos de contingência, mas o que se veio a verificar é que o plano de segurança ao paiol ou dos paios não estava a ser executado conforme o planeado.

Vamos perceber porque é que não estava a ser cumprido, e aí pode haver causas humanas ou de falta de material. O inquérito irá determinar. Temos de investigar quem cometeu o crime, apanhar os criminosos e acima de tudo conseguir suster a entrada desse material no circuito internacional.

Este não é o primeiro roubo de armas que acontece em Portugal e até agora nunca foram identificados os autores de outros casos?

É diferente. Noutros casos, são furtos de pessoas que têm acesso mesmo que ilegítimo mas que estão dentro da unidade militar. Mas não sei se este será o caso.

Estamos a falar de três casos no total: as dez armas que desapareceram da Carregueira, as 50 pistolas que saíram do paiol da PSP, e mais recentemente este caso com a maior quantidade e diversidade de armas roubadas.

Mas os casos têm entre si circunstâncias completamente diferentes. O nível de segurança e de acesso a cada uma destas unidades é completamente diferente.

[O caso de Tancos] é um caso muito mais grave e que vai preocupar muito mais todas as entidades do que os outros casos. É um caso atípico que vai levar a que a cooperação internacional seja muito maior do que nas outras situações, devido à dimensão e tipologia do material.

É um roubo impar pela escala?

Sim, pelo impacto que pode ter nas populações se for utilizado contra elas.

Entrevista publicada no site da Rádio Renascença